Uma das
coisas mais gostosas da vida é uma relação de intimidade. Geralmente, essa
relação vem acompanhada de completude, verdade, integridade, simplicidade,
satisfação, desejo de estar junto e, para mim, ao final de tudo, um bom café...
Mas tive algumas relações de
intimidade emblemáticas. A primeira dessas foi com uma ovelha. Eu tinha cerca
de nove anos de idade e a cerca da casa dos meus pais dava para um pasto bem
grande onde se criavam ovelhas. Quase todas as manhãs, essa que chamarei de
Bella, vinha até a cerca para receber carinho e me deixar alisar sua lã branca
e macia. Para Bella, sempre tinha um pedaço de pão e muito carinho. E, ao que
parece, Bella gostava de ficar ali comigo, até a hora de ser chamada para o
aprisco, pelo pastor.
Outra
relação muito íntima foi com Bob, um pastor alemão que chegou em casa ainda
filhote. Ainda nesse descampado onde Bella pastava, certa feita, fui brincar
com Joãozinho, aquilo de escorregar na grama morro abaixo. Bob achou que meu
colega estava brigando comigo. Não sei como, soltou-se de sua corrente e foi
ate lá me proteger. Mordeu Joãozinho e ficou em cima dele rosnando ate que o
Tio Denilson chegou lá e tirou a "fera" de cima daquela criança.
Sentia-me
íntimo de "Bella" pelo carinho e pelo tempo que passávamos juntos, sentia-me
íntimo de "Bob", pelo sentimento de proteção e segurança que ele me
passava. Gastava bastante tempo brincando com meu amigo protetor-fiel. Como
tenho saudades daquela "fera" ! Sempre que estava perto dele, sentia-me
muito protegido. E muito importante. Que gostoso!
Por
esses dias, uma nova relação de intimidade tem surgido. Em minhas manhãs de
café solitário, tenho sido "visitado" por um gentil beija-flor.
Sempre à hora do meu café é a mesma em que ele procura se alimentar das flores
do pé de mamão.
Ele
fica ali, pelo tempo que julga necessário e eu fico me inebriando com sua
companhia furtiva. Fico me deliciando com essa relação, essa tentativa de
intimidade, tal qual a Bella e o Bob. Mas se quero relacionar-me com um beija-flor,
preciso entendê-lo e entrar em seu mundo. Então, em minhas manhãs, comecei a
percebê-lo. E, como uma música, fui atrás das notas que compõem sua
"personalidade".
Assim,
primeiramente percebi que o beija-flor tem, em sua essência, a LIBERDADE. Você
não o prende. Você dá motivos para que ele volte. Ele escolhe seu caminho e
como irá trilhá-lo. Ele decide se parará no ar, ou se voará para trás ou de
"cabeça para baixo". Fico observando como se move pela vida de
"queixo caído". Ele é o único pássaro que tem esse poder de decisão.
Ele vai na "contramão" de todos. Por ser um pássaro tão livre e tão
autônomo, a mim, resta-me apenas colocar uma daquelas garrafinhas de água com
açúcar e torcer para que ele, em sua liberdade, volte.
Igualmente,
percebi o quão furtivo é o beija-flor. Você o observa, e em fração de segundos,
ele já não está mais. Você se distrai e, novamente, ele está ali, com sua
beleza exuberante. Ele, como os outros pássaros, não deve ser preso. A prisão
para um beija-flor é sinônimo de morte. Prendê-lo é despersonalizá-lo. Ele vem
e passa silenciosa, exuberante e rapidamente. E, se quero perceber, registrar e
captar sua beleza, preciso apurar meus poderes de percepção. Pois um beija-flor
não se conhece, ele se dá a conhecer. E eu? Eu estou tentando perceber o meu
amigo visitante, estou tentando registrá-lo, estou tentando captá-lo. E é
sempre uma tentativa, mas uma tentativa inebriante.
Cuidando
do ser. Esse é um lugar de percepções. Esse é um lugar de elaboração da vida. Esse é um lugar de buscar
a essência da motivação. Assim, o que me atrai em um pequeno beija-flor?
Primeiro, a sua beleza, tão simples ao mesmo tempo tão magnânima. Segundo, sou
atraído por seu mistério. O meu beija-flor, mesmo solitário, parece, pelo seu
jogo de "luz e cores", transmitir a mim mesmo um ser cheio de
alegria, diversão e felicidade. Se é que isso é possível a um pássaro! Por fim,
gostaria de me relacionar profundamente com esse pássaro, mas nessa vida
algumas coisas são mesmo imponderáveis. Então aceito, aceito o que tenho, o que
ele me concede: manhãs encantadas, que abrilhantam meu café pela sua presença
livre, furtiva, inebriante e não menos bela. E sei o que dou nessa relação: um
lugar para ele saciar sua sede. Pois carinho como a Bella e o Bob tinham,
parece ser uma possibilidade impossível para um beija-flor. Finalmente, no que
depender de mim, ele terá todos os motivos para voltar, voltar sempre!
Faça
isso! Dê a quem você ama motivos, muitos motivos para que este(a) sempre volte
e queira voltar! Isso fará toda diferença em sua vida.
E,
meu beija flor, por favor, mesmo com essa relação complicada, venha, venha
novamente me "ver", pois estou aqui te esperando, com uma xícara de
café.
Se eu conseguisse captura -lo em uma foto ele seria mais ou menos assim! Mas ao vivo é muito mais BONITO!
Por Luciano de Paula.
20/02/2016
Por Luciano de Paula.
20/02/2016
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