sábado, 25 de setembro de 2010

CUIDANDO DO SER VII - PARTIDA


PARTIDA
Doce ilusão da alma, acreditar que tudo é para sempre, que tudo é absoluto, apenas Deus é absoluto. Vivemos a impermanência, a relatividade e a inconstância.
 A noite vem chegando. A brisa é fria e cortante. Não há nuvens no céu, apenas, agora, uma lua cheia e linda. O futuro prenuncia um ultimo encontro, mais uma estada, mais um reencontro. Ali tudo começou. Na verdade, ali começou a história de uma “nova vida”. Quem poderia ponderar o imponderável.
O texto é triste, não tem como não ser! É tempo de partida. Parte de mim fica, e isso doí, parte de mim ficará para trás. Poderiam dizer: - mas a lembrança sempre fica, nada pode mudar o que foi vivido. Certamente terei de aceitar isso como verdade.
Passarei por ali muitas vezes, mas não será como antes, não será mais meu porto, não será mais meu jardim, não será mais parte de mim, não será mais presente, será passado. E da vida do ontem não gosto muito. O ontem é para o mundo das idéias, minha alma é muito para o hoje, quero viver o hoje, quero estar o hoje.
Estou me preparando psicologicamente, pisarei lá mais uma vez, ficarei o tempo que julgar necessário, e partirei. A partida será única, definitiva, inalterável e irrecuável. Tentarei trocar a impotência de mudar alguma coisa, pela alegria de ir em busca de novos portos, novos horizontes, novas percepções, novos descobrimentos e novos mares. É a vida que segue.
 Julio Verne (20 000 vinte mil léguas submarinas) poderia me dar uma aula sobre partidas definitivas. Uma releitura traria novas perspectivas a minha alma, me faria bem, penso, afinal, também estou de partida. Não serei o primeiro nem o ultimo, mas não quero olhar para trás. Nesse caso nada mudaria, nada se alteraria. Apenas aumentaria a dor.
Tenho andado introspectivo e tentando gerenciar minhas próprias emoções. A tripulação logo gritará: - Capitão estamos prontos, o barco esta pronto, a hora chegou. A partir desse momento esse porto, que tem em si um pedaço de mim, ficará para trás e fora do meu alcance, fora do meu limite, inacessível a mim mesmo.
O que devo fazer diante da partida? O que minha alma deve assimilar diante da impossibilidade da mudança?  Estou indo, e é definitivo, determinante, concludente e terminante. Não tem volta. É para sempre! Quem poderia me dar um sinal?
O cap. Nemo (do livro citado) tinha uma marca. Por onde ele passava adquiria um tesouro, uma lembrança, uma coisa de valor ou sem valor e trazia para si, aquilo fazia ligação com o mundo passado, que ele tinha de deixar, quase sempre. Então é isso (This is it)!
- Marujo, pegue um baú. Vamos, ainda, fazer um passeio pela ilha.  Temos tempo antes da partida, na verdade, aqui sou o capitão e digo:
- Ficaremos mais um pouco, PARTIREMOS AMANHÃ e será great!!!

                                                            Luciano de Paula  - 25/09/10.