segunda-feira, 13 de maio de 2013

Cuidando do Ser XXIX - POSSIBILIDADES!


A situação se tornou insustentável. A angustia, o aperto e o incomodo tomavam conta desse relacionamento. Todas as noites, quando me deitava, assim que o sangue do corpo começava a esfriar, um desconforto enorme  iniciava. Era o dente do siso, nascendo depois dos meus trinta anos. Não havia espaço para ele em minha gengiva.  Agonia e aperto eram as palavras de ordem nas minhas noites mal dormidas.

Fui ao dentista. Ao perceber a situação, disse, imparcialmente: "Têm que extrair".  A anestesia foi aplicada e depois de certo esforço, estava o grande dente em minhas mãos.

O dentista disse que se dependesse dos meus dentes para trabalhar, ele iria a falência. Gosto dos meus dentes. Procuro cuidar deles. Fiquei triste ao ter de me separar do meu siso. "Por quê?, me interroguei. Não encontrei respostas, nem culpados, apenas encontrei a separação silenciosa e não menos traumática.

Quando penso em algumas relações humanas, posso compará-las a minha situação com o dente. Alguns relacionamentos simplesmente acabam! A vida simples, inevitavelmente assume rumos diferentes. Não há espaços para culpados, pois eles não existem. A  conexão se vai,  tal qual a “internet discada que caiu”!!! E por mais difícil que pareça tudo isso, deve ser aceito, pensado, elaborado e reelaborado como parte do processo contínuo de construção da vida...


     Cuidando do Ser. Foi muito, muito difícil aceitar a perda do meu dente. Hoje, fica a lembrança deixada, o espaço ainda plenamente não preenchido, mas sei que sua permanência em meu mundo, em meu corpo era improvável, entretanto, com o tempo; e pensando bem, foi o melhor. 
 Assim, mesmo que pareça incompreensível, injusto, mesmo que pareça loucura, aceite algumas perdas. Já sei bem que aceitando ou não, elas acontecerão e sem que haja culpados, nem justificavas. Então porque não assumir esse espaço? Porque não assumir esse vácuo deixado como possibilidade de novas experiências, de novos encontros, de novas oportunidades, de novas pessoas, de novas coisas, de novas emoções e percepções? Hoje, a perda pode ser vista como uma nova oportunidade de realocar os espaços, arrumar o interior e se reinventar para novas possibilidades. Assim, posso dizer, por vivência e por conhecimento de causa...: Algumas perdas (ainda que sentidas e traumáticas) são boas e reestruturantes... necessárias, ainda que nunca plenamente entendidas.


Por   Luciano de Paula. 
13/05/2013.