sábado, 20 de fevereiro de 2016

CUIDANDO DO SER - XXXVI : BEIJA - FLOR. UMA RELAÇÃO DE INTIMIDADE!

      Uma das coisas mais gostosas da vida é uma relação de intimidade. Geralmente, essa relação vem acompanhada de completude, verdade, integridade, simplicidade, satisfação, desejo de estar junto e, para mim, ao final de tudo, um bom café...
Mas tive algumas relações de intimidade emblemáticas. A primeira dessas foi com uma ovelha. Eu tinha cerca de nove anos de idade e a cerca da casa dos meus pais dava para um pasto bem grande onde se criavam ovelhas. Quase todas as manhãs, essa que chamarei de Bella, vinha até a cerca para receber carinho e me deixar alisar sua lã branca e macia. Para Bella, sempre tinha um pedaço de pão e muito carinho. E, ao que parece, Bella gostava de ficar ali comigo, até a hora de ser chamada para o aprisco, pelo pastor.
            Outra relação muito íntima foi com Bob, um pastor alemão que chegou em casa ainda filhote. Ainda nesse descampado onde Bella pastava, certa feita, fui brincar com Joãozinho, aquilo de escorregar na grama morro abaixo. Bob achou que meu colega estava brigando comigo. Não sei como, soltou-se de sua corrente e foi ate lá me proteger. Mordeu Joãozinho e ficou em cima dele rosnando ate que o Tio Denilson chegou lá e tirou a "fera" de cima daquela criança.
            Sentia-me íntimo de "Bella" pelo carinho e pelo tempo que passávamos juntos, sentia-me íntimo de "Bob", pelo sentimento de proteção e segurança que ele me passava. Gastava bastante tempo brincando com meu amigo protetor-fiel. Como tenho saudades daquela "fera" ! Sempre que estava perto dele, sentia-me muito protegido. E muito importante. Que gostoso!
            Por esses dias, uma nova relação de intimidade tem surgido. Em minhas manhãs de café solitário, tenho sido "visitado" por um gentil beija-flor. Sempre à hora do meu café é a mesma em que ele procura se alimentar das flores do pé de mamão.
            Ele fica ali, pelo tempo que julga necessário e eu fico me inebriando com sua companhia furtiva. Fico me deliciando com essa relação, essa tentativa de intimidade, tal qual a Bella e o Bob. Mas se quero relacionar-me com um beija-flor, preciso entendê-lo e entrar em seu mundo. Então, em minhas manhãs, comecei a percebê-lo. E, como uma música, fui atrás das notas que compõem sua "personalidade".
            Assim, primeiramente percebi que o beija-flor tem, em sua essência, a LIBERDADE. Você não o prende. Você dá motivos para que ele volte. Ele escolhe seu caminho e como irá trilhá-lo. Ele decide se parará no ar, ou se voará para trás ou de "cabeça para baixo". Fico observando como se move pela vida de "queixo caído". Ele é o único pássaro que tem esse poder de decisão. Ele vai na "contramão" de todos. Por ser um pássaro tão livre e tão autônomo, a mim, resta-me apenas colocar uma daquelas garrafinhas de água com açúcar e torcer para que ele, em sua liberdade, volte.
            Igualmente, percebi o quão furtivo é o beija-flor. Você o observa, e em fração de segundos, ele já não está mais. Você se distrai e, novamente, ele está ali, com sua beleza exuberante. Ele, como os outros pássaros, não deve ser preso. A prisão para um beija-flor é sinônimo de morte. Prendê-lo é despersonalizá-lo. Ele vem e passa silenciosa, exuberante e rapidamente. E, se quero perceber, registrar e captar sua beleza, preciso apurar meus poderes de percepção. Pois um beija-flor não se conhece, ele se dá a conhecer. E eu? Eu estou tentando perceber o meu amigo visitante, estou tentando registrá-lo, estou tentando captá-lo. E é sempre uma tentativa, mas uma tentativa inebriante.
            Cuidando do ser. Esse é um lugar de percepções. Esse é um lugar de  elaboração da vida. Esse é um lugar de buscar a essência da motivação. Assim, o que me atrai em um pequeno beija-flor? Primeiro, a sua beleza, tão simples ao mesmo tempo tão magnânima. Segundo, sou atraído por seu mistério. O meu beija-flor, mesmo solitário, parece, pelo seu jogo de "luz e cores", transmitir a mim mesmo um ser cheio de alegria, diversão e felicidade. Se é que isso é possível a um pássaro! Por fim, gostaria de me relacionar profundamente com esse pássaro, mas nessa vida algumas coisas são mesmo imponderáveis. Então aceito, aceito o que tenho, o que ele me concede: manhãs encantadas, que abrilhantam meu café pela sua presença livre, furtiva, inebriante e não menos bela. E sei o que dou nessa relação: um lugar para ele saciar sua sede. Pois carinho como a Bella e o Bob tinham, parece ser uma possibilidade impossível para um beija-flor. Finalmente, no que depender de mim, ele terá todos os motivos para voltar, voltar sempre!
            Faça isso! Dê a quem você ama motivos, muitos motivos para que este(a) sempre volte e queira voltar! Isso fará toda diferença em sua vida.

            E, meu beija flor, por favor, mesmo com essa relação complicada, venha, venha novamente me "ver", pois estou aqui te esperando, com uma xícara de café.


Se eu conseguisse captura -lo em uma foto ele seria mais ou menos assim! Mas ao vivo é muito mais BONITO!

Por Luciano de Paula.
20/02/2016