sexta-feira, 18 de maio de 2012

CUIDANDO DO SER XXII – CHOCOLATE!

   “Chocolate”. Foi um verdadeiro chocolate a derrota que sofri para um grande amigo em uma corrida de kart. Até aqui tínhamos competido apenas uma vez. Corri para ganhar, e acreditei que novamente isso iria acontecer. Ledo engano! Foi uma derrota total. Por mais que eu andasse, por mais que tentasse tirar “água da pedra”, tive que amargar a derrota. Depois da corrida meu amigo disse esta participando, todo mês, de um torneio de kart com o pessoal do trabalho. Nesse momento entendi de onde vinha tanta perícia. Ele esta andando muito. Fiquei surpreso e ainda tive de agüentar a “guerra”, as brincadeiras e as risadas no carro voltando para casa. Quem me conhece um pouquinho sabe que não me dou muito bem com a derrota, mas nesse dia não foi derrota, foi um grande “chocolate” e de quebra o corpo dolorido do kart.

   Alguns meses se passaram. Não andei mais de kart. Reencontrei esse meu grande amigo. Saímos, nos divertimos e para dissabor das nossas esposas arrumamos um jeito de encontrar uma nova pista de kart para um desempate, afinal estava um a um no placar geral. Tentei correr, me esquivar, enrolei, mas ele queria correr. Outro “chocolate” à vista. Nunca entrei em uma pista achando que iria perder, mas naquela noite já estava escrito e detalhe, ele acabara de correr uma semana antes em Volta Redonda. Estava até com meu semblante meio descaído sabendo o que iria acontecer.

   Sabe aqueles dias que você tem que se encontrar com você mesmo. Entrei naquele carro, coloquei a “faca nos dentes”, canalizei todas as minhas energias para aquela corria, abstraí tudo e todos, seria a “corrida da minha vida”. Ali apenas eu, o kart e o imponderável. Sabia que não tinha braço para pilotar de igual para igual, logo vamos correr em um circuito aberto onde meu amigo é especialista. Se já estava difícil, seria quase impossível em outro momento. Se eu teria uma chance de tentar alguma coisa, seria nesta corrida.

   Qualificação. Eu estava alucinado! Nem olhava para o painel de tempo. Cada volta era uma eternidade. Precisava tentar largar na frente de toda maneira, era a minha única chance de tentar segurar Junior Alonso. Dei tudo na classificação como se fosse a corrida, não poupei nada, resultado. Larguei em terceiro. Quem largaria a minha frente e de camisa rosa; ele mesmo, Junior Alonso, para minha frustração! Circuito travado, como o de Mônaco, quem larga na frente vai embora. Dar o “pulo do gato” na largada seria a minha ultima tentativa. Diante dos “viciados em kart” que estavam lá, largar em terceiro já fora uma façanha. Mas o meu “grande rival” ainda estava a minha frente.

   Quem gosta de formula 1 sabe que o slogan do Takuma Sato era “vitória ou muro”. Era o meu slogan naquela noite. Baixei a viseira do capacete e fomos para a largada. Tentei dar o bote e pular na frente, foi uma largada tensa, vários karts se esbarrando, dei sorte pulei na frente do Junior Alonso. Seriam os 16 minutos intermináveis até o fim da prova. Olhava para trás so via um vulto rosa me perseguindo durante quase todo o tempo. Estava tenso demais, mas usando tudo o que tinha e o que não tinha. Tentava ser o mais agressivo possível e ao mesmo tempo trazia o kart na ponta dos pés para ele não derrapar.

   Frustração total!!! Quando estava negociando a ultrapassagem com um retardatário fui ultrapassado por uma pessoa que estava de camisa rosa. A única pessoa que vi vestido de rosa na sala de instruções era o Junior Alonso, o marquei pela camisa. Depois da ultrapassagem apenas percebia o kart da frente se distanciando. Fiquei triste. Dei tudo o que tinha e mesmo assim não havia conseguido. Foi frustrante, decepcionante.

   Acabada a corrida. Os carros foram parando. Eu nem queria descer do kart. Sou “debochado” iria receber o deboche. Sai do kart nem tirei o capacete, frustrado demais! – Dei o meu melhor, “faca nos dentes” e mesmo assim nem cheguei perto, realmente ele é muito bom, 2 x 1 no placar geral, nem olhei minha posição no placar. O Junior Alonso veio me cumprimentar eu ainda de capacete, cara de poucos amigos, não queria falar com ninguém. Perdi! Quem gosta de perder, ainda mais depois de ter dado tudo o que tinha para dar!

   Saímos do circuito e fomos para o salão principal pegar o resultado final da prova. Olhei para o Junior e o senti meio comedido. Ao terminar de tirar o capacete e a “bala clava” veio um rapaz vestido de rosa me cumprimentar e me dar os parabéns pelo grande duelo. Quando eu me dei conta eu não estava disputando com o Junior, mas sim com outro oponente, ele também estava de camisa rosa. Saiu o resultado. Luciano Vetel em segundo, Junior Alonso em quinto. Uol!!! Minha frustração de tornou em alegria instantânea. E eu sou “chato” nesse aspecto. Chego a ser inconveniente, às vezes. Naquela noite não queria ser o Junior a me agüentar. Alegria extasiante. Seria uma grande derrota, mas foi uma grande VITÓRIA. Foi emocionante. Conquistar a vitória sobre um campeão que é o Junior Alonso, dentro de casa e aos olhos da torcida foi demais. Eu até hoje me emociono com isso. Foi demais! Foi triunfante! Não tem preço!!! Andou demais Luciano Vetel! Até hoje fico me perguntando como consegui!

   Cuidando do Ser. Isso tudo é somente uma brincadeira de adolescentes grandes, todavia, as vezes, estamos diante de situações da vida onde temos apenas a vontade, a fé em nós mesmos e a certeza de esta fazendo o seu melhor. Poderia ter desistido, mas não desistir, no final deu certo! Você, hoje, pode escolher desistir ou dar o seu melhor em relação a sua vida, aos seus problemas. A vitória ou não fica por conta do imponderável, faça a sua parte da melhor maneira possível e acredite. Afinal quem ousaria ponderar o imponderável! Hoje eu venci e venci bonito. Meu amigo esta com sede de revanche, imagino o que vem pela frente, preciso me preparar. E que venha a revanche e eu já sei que será muito difícil vencê-lo, ele é muito bom, mas eu vou lá, quem sabe! Será um duelo interessante.
   Mas hoje não há chocolate, hoje não, não dessa vez! Hoje há uma super comemoração de uma super e grandiosa vitória. E que venha o circuito aberto de Guaratinguetá. “Faca nos dentes” e vamos que vamos! Estarei lá, e será great!

   Hoje não, Junior Alonso... Hoje não!!! \°/


Por Luciano de Paula. 18/05/12